Escolhas. Um ano depois. Quartorze anos depois. 

10 de março de 2014. No aeroporto de Guarulhos, estávamos prestes a embarcar para a África do Sul e começar o primeiro grande mochilão das nossas vidas. Não por obra do acaso, mas por uma decisão deliberada e também romântica (por que não), a data da partida coincidiu com a data que começamos a namorar. A partir de então, sempre teremos comemoração dupla neste dia. E hoje é terça, 10 de março de 2015, mas essa história é sobre o final de semana passado.

Neste final de semana, nós tivemos um compromisso na cidade em que vivem nossos pais, no sábado bem de manhãzinha. Como a previsão do tempo estava péssima e a possibilidade de chuva era bastante alta, fomos obrigados a deixar a moto em casa e viajar de ônibus.

Se usamos ônibus para ir, também usamos para voltar. E a previsão se confirmou, e chegamos em São Paulo no domingo à noite, debaixo de uma chuva bem forte. Planejávamos levar 1 hora até nossa casa, mas as estações Luz e República estavam fechadas para manutenção na linha amarela e tivemos que mudar a estratégia, aumentando nosso trajeto.

Descemos então na estação Vila Madalena e tentamos por 15 minutos chamar um taxi. Não havia nem um santo taxista no ponto, os aplicativos não estavam funcionando e o 3G… bom sobre o 3G nem vou comentar. Nada de taxi! Como estávamos nos protegendo da chuva debaixo de um ponto de ônibus, vimos a linha que passa perto da nossa casa chegar e decidimos embarcar. E durante todo o caminho, a chuva continuo persistente e implacável.

Paulinho com uma mochila nas costas e eu carregando uma sacola. Sem guarda-chuva, descemos do ônibus e começamos a correr. Corremos debaixo de chuva, como nos tempos áureos de 2014, com a mochila nas costas. E corremos como se não houvesse amanhã, fazendo graça, rindo. Entramos em casa ensopados e sem fôlego e ainda rindo da nossa situação.

Se Kundera* está certo e, portanto, se o acaso pode transmitir uma mensagem e falar com a gente de uma forma que os eventos programados e repetidos não podem, então, essa sucessão de eventos simples e não planejados talvez queiram dizer alguma coisa.

Na noite em que tudo “deu errado” (em uma situação tão boba e comum do cotidiano de um casal que escolheu viver sem carro), parei para refletir sobre uma das maiores conquistas da nossa viagem: o nosso espírito mochileiro.

O espírito mochileiro, esse estado de espírito que nos faz encarar as adversidades como aventuras, que nos encoraja a buscar alternativas quando nosso plano dá errado. Que abre nossos olhos para ver a diferença com curiosidade e não com julgamento. Que nos leva a viver os perrengues e a transformá-los em histórias pra contar. E que, sobretudo, nos ajuda a lembrar sempre que somos produto das nossas escolhas.

E um ano depois da nossa partida, desejamos que esse espírito transcenda a experiência da “mochilagem” e se torne parte de nós.

E, depois de quatorze anos vivendo com o Paulinho, posso dizer que sei exatamente porquê comecei a namora-lo e me casei com ele. Nós dois sabemos porque estamos juntos até hoje. E essa consciência faz de nós especiais, um para o outro, em nossos propósitos de vida.

E que tudo se perpetue até quando houver sentido. Que todo 10 de março seja ano novo pra gente e que a gente se renove e continue a fazer das nossas vidas o que queremos e esperamos delas.

 

*Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.

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2 COMENTÁRIOS

    • Ana, querida!!!
      Que surpresa linda seu comentário aqui no meu blog. Que honra!
      Fico feliz que tenha gostado. Esse foi um daqueles posts que senti uma vontade incontrolável de escrever.
      Beijos
      Pam

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