Sobre o último dia de um mochilão

Quando planejamos nossa viagem de volta ao mundo, encontramos, com muita frequência, vários posts falando sobre a ansiedade da espera, sobre as etapas do planejamento ou sobre as semanas seguintes após o término do mochilão. Mas dificilmente, encontramos algum post que abordasse o fatídico último dia de um mochilão. E cá estamos nós, hoje, em nosso último dia. E talvez eu entenda porque ninguém queira escrever sobre isso.

#1 Porque é muita angústia pra um coração só. Dá medo do que virá. De como veremos o mundo de novo. Será que mudamos? Será que as pessoas vão nos reconhecer? Como será nossa adaptação à rotina antiga. Como será nossa vida a parir de agora? Teremos os mesmos gostos e desejos? Seremos monotemáticos? Conseguiremos pensar em outra coisa? Como será nossa relação com o mercado de trabalho? Teremos boas oportunidades profissionais? Elas vão demorar? O dinheiro que está guardado será suficiente? Qual o real sentido de voltar?

#2 Porque quando a viagem é de longo prazo, viajar se torna uma rotina. E, como toda rotina, é difícil abandonar. Viajar meio que passou a ser nossa “zona de conforto”. A busca pela novidade diária se transforma em hábito. Nos acostumamos ao novo, por mais paradoxal que isso possa parecer. E nos apegamos a ele.

#3 Porque descobrimos que a espera é uma das partes mais legais de viajar. Sabe aquela história de que o importante é a jornada e não o destino final? Toda a espera pré-viagem (escolha dos destinos, planejamento, compra das passagens, expectativa de contar para a família) e a espera durante a viagem (pesquisa sobre o próximo país, sobre o próximo dia, mudanças de planos, escolha das hospedagens) foram parte do nosso dia-a-dia e mantinha nossa adrenalina sempre a mil. Incontáveis são os momentos marcantes que só a espera pode proporcionar e que fez da expectativa nossa maior companheira.

Sabemos que a angústia que sentimos hoje existe justamente pela espera do que virá a partir de agora, mas sabemos também que ela é temporária. Depois de um tempo, vamos nos acostumar e essa expectativa constante que nos acompanha diariamente vai deixar de existir, ou ser bem mais amena.

#4 Porque não sabemos quando conseguiremos fazer o próximo. Sim, nós queremos fazer tudo de novo! Não há dinheiro no mundo que pague nossas horas sentados em praças medievais lindas, que pague as comidas mais diferentes e maravilhosas que experimentamos, o conhecimento adquirido sobre o mundo e seus caminhos tortuosos, as paisagens mais deslumbrantes. Não há dinheiro que pague as diferentes culturas a que fomos imersos, as visões de mundo que nos foram apresentadas e, principalmente, as pessoas especiais que conhecemos.

#5 Porque a viagem nos permitiu ter o controle das nossas escolhas. Por meses fomos donos, sócios e proprietários das nossas decisões. Antes da viagem começar, tínhamos uma agenda cheia e que não dominávamos, muitas hierarquias para respeitar e alguns sapos para engolir. Nosso dia-a-dia era tão corrido que não conseguíamos terminar a nossa maratona “Friends”.

Compreensível porque quase ninguém escreve sobre o “último dia de um mochilão”. É um dia até mesmo difícil de se pensar em alguma coisa. É verdade que tudo o que vimos e vivemos estará grudado na gente, e pra sempre estará influenciando nossas decisões de vida. E por isso que, na verdade, um mochilão nunca acaba. Ele ganha novos significados, vai se reproduzindo dentro e fora da gente.

E da mesma forma que seu suposto fim nos angustia, ele enche a gente de amor. Amor expressado pelos nossos pais, irmãs e amigos durante o dia de hoje. Posso dizer que me senti querida e necessária. Retribuída em meus sentimentos por essas pessoas tão importantes:

“Ai, já to com palpitação de ansiedade…”

“Tenham uma ótima viagem!! Estamos muito ansiosos com a chegada de vcs!”

“E hj tem embarque……esperando por vocês ansiosamente…..”

“Aqui, o clima já é de festa!!!”

“E depois….a super aconchegante, reconfortante e cheia de amor a espera de vcs, Porto, agora a Feliz”

“Bom retorno, estamos aqui esperando vcs… Saudades”

“Ai que meu coração disparou só de ler isso!!!! Hahaha!! Nem acredito que vcs estão voltando!!!”

“Ah, que alegria!!! E que saudade!!!! Que o retorno seja perfeito!!!”

“Bem vinda amiga querida!!!! Boa viagem ao casal aventureiro.”

“Boa viagem de volta! Feliz regresso! “

“Tô contando os minutos para rever vocês!!!!”

“Sejam bem vindos! Estamos com saudades! Beijos sobrinhos!”

“Nós estamos ainda mais ansiosos para ouvir as histórias incríveis que vcs viveram!!”

“Que lindos….#ansiosa….feijão quase pronto”

Percebemos que as experiências desses meses só fazem sentido porque compartilhamos. E assim como um mochilão começa muito antes do primeiro embarque, ele termina muito depois da última aterrissagem.

Sozinhos. Ala C do aeroporto de Roma. 2:45 da manhã. A espera. Sempre ela bagunçando de novo nossos corações. Expectativa pelo próximo avião. Pelo próximo destino: os abraços quentes e apertados da nossa família, que também está à espera. No aeroporto. São Paulo/Guarulhos. 3 de outubro. 2014.

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14 COMENTÁRIOS

  1. O melhor de tudo para mim é sempre voltar! 🙂
    Abraçar a família, ver os amigos, curtir todas as nossas conquistas de casa… GOSTO de ir, mas ADORO voltar.
    Seu relato tá incrível Pam.

    • Pra mim foi um choque voltar, acredita? Eu não sabia o que fazer. Fiquei ansiosa, não dormi na noite anterior e chorei no aeroporto. Mas sim, é muito bom voltar pra casa e abraçar as pessoas queridas, né? Obrigada pelo elogio. Lembro de ter colocado todo meu coração nesse post. Beijo

  2. Pam, nunca fiz uma viagem longa tipo mochilão, mudando de cidade o tempo todo, mas os sentimentos são bem parecidos com a volta de um intercâmbio (esse sim, eu conheço muito bem rs Foram 5, o mais longo de 1 ano, mas a maioria curtinho). É, difícil mesmo… E acho que por isso que a gente volta já planejando o próximo!!! hahahaha bjão!

  3. Mil coisas passam na nossa cabeça nesses ‘últimos dias’, sejam viagens curtas ou longas. Adorei e me identifiquei muito com o seu post! Bjs e que venham mais ‘últimos dias’!!!

  4. Seu ultimo dia de mochilão foi no meu aniversário!!!! Eu acho que as ansiedades e expectativas eu teria sim, mas dúvidas ou tristeza, não. Alguns se sentem tristes, né? Mas eu preciso sempre voltar pra meu lugar. Ele até pode ser qualquer lugar, mas tem que ser o meu lugar…rs Boa reflexão! Adorei!

    • Sério que foi no dia do seu aniversário? Então, é uma mistura louca de sentimentos. Eu estava AMANDO viajar e não queria que acabasse. Chorei muito no aeroporto. Mas é muito bom voltar. Acho que a volta tem uma coisa importante que é te permitir criar expectativas de novo, sonhar com novos destinos. Obrigada pelo elogio e pela visita! Beijos

  5. Deve ser muito difícil voltar para casa depois de uma viagem tão longa dessa! Quando eu fui para um intercâmbio de 3 meses, sofri demais na volta. Claro, era ótimo voltar para a família, mas e a tristeza de deixar a nova vida para trás?
    Complicado.

    Beijos

    • É isso mesmo Dani! É um mix de sentimentos. E, principalmente, se você está gostando de viajar, você não quer parar. Não quer deixar de viajar. A cabeça fica toda embaraçada porque ao mesmo tempo que sentimos falta das pessoas, não queremos perder a “vida nova”. Mas voltar tem os seus encantos também, né? Beijos

  6. Pam, muito legal seu blog, sua viagem, a iniciativa, a coragem!
    Me sinto inspirada para um dia seguir seus passos. Ainda não li todos os posts, mas chego lá rapidinho.

    Sejam bem-vindos de volta, espero que SP seja acolhedora.
    Quando tiver um tempinho, adoraria tomar um café com você.
    Beijo grande,
    Ju

    • Oi Juju! Amei sua mensagem! Obrigada!! Vamos com cereteza tomar um café. Te adviso qdo estiver em Sampa. Por enquanto, estou no interior curtindo do a família. Beijos

  7. Não sabia que vc morava tão perto de mim! Sou de Indaiatuba :-P…ai, qdo chego de uma viagem, por mais bobinha que seja (comparada com a de vcs), fico deprê por vaaaarios dias…dividir faz a gente reviver e ansiar pela próxima….sejam bem vindos de volta…bjs

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