Yangon: de Aung San Suu Kyi a uma ida ao cinema!

Yangon (ou Rangoon ou Ragum) pode até não ser mais a capital do país desde 2005-6*, mas certamente ainda é onde as coisas acontecem em Mianmar.

*A capital oficial do país é Naypyidaw e foi construída “na surdina”, surpreendendo muita gente. Ouvimos algumas vezes que esse costume de mudar de capital com frequência é uma questão de vaidade e também uma estratégia para desmobilizar as oposições locais e forças internacionais, protegendo a junta militar no poder. Naypyidaw é considerada por muitos uma cidade-fantasma, com uma série de regras de acesso a cada uma de suas zonas.

Yangon é a maior cidade do país, a que representa sua história de lutas e que foi o cenário dos acontecimentos mais importantes. É inevitável associá-la às sagas de Aung San e Aung San Suu Kyi. Uma certeza: não há como passar por Mianmar, principalmente Yangon, sem conhecer um pouco sobre eles! O primeiro, também conhecido como Bogyoke, é considerado um herói nacional por conduzir o processo de libertação do país das forças britânicas e japonesas na década de 40. Durante o período de transição, ele e alguns de seus ministros foram assassinados em plena reunião no palácio executivo e isso só aumentou a admiração da população local.

Antigo Palácio executivo Yangon
Antigo palácio executivo, atualmente fechado, mas que talvez vire um hotel de luxo.

Sua filha, Aung San Suu Kyi, acabou se estabelecendo na Inglaterra, onde constituiu família, mas sempre com laços muito estreitos com Mianmar. Ela voltou ao país no final da década de 90 para cuidar de sua mãe doente em um momento turbulento e acabou ficando e liderando uma oposição pacífica à junta militar. Entre idas e vindas, ficou em prisão domiciliar durante quase 15 anos (!). Em 1991, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e hoje é deputada pelo partido de oposição, que também lidera. As fotos deles estão espalhadas por muitos lugares, às vezes de forma mais discreta, às vezes de uma maneira mais venerada.

Aung San e Aung San Suu Kyi Yangon
Aung San e Aung San Suu Kyi

A esta altura, talvez você já esteja se perguntando se com essa popularidade toda ASSK não poderia ser eleita presidente… Bom, pela quantidade de simpatizantes parece que não seria algo difícil e ela mesma já declarou algumas vezes que gostaria. Mas tem um detalhe da lei birmanesa que torna a história mais difícil: pessoas casadas ou com filhos estrangeiros não podem exercer o cargo. Seria necessário uma mudança na Constituição do país, o que já chegou a ser cogitado, mas até agora não foi adiante. Há eleições previstas no país para o final de 2015 e continuamos aguardando cenas dos próximos capítulos!

É claro que essa é a história resumida e simplista. Poderíamos escrever muitos e muitos parágrafos sobre isso, pois junto com o budismo este foi um dos itens que mais nos impressionou. Mas vamos deixar um gostinho de quero mais e deixamos apenas nossa recomendação de que pesquise um pouquinho sobre o assunto, mesmo se você não vai para Mianmar. Juramos, vale a pena!

Você pode começar assistindo o filme que indicamos no post de dicas práticas para uma viagem a Mianmar. Aproveite e dê uma pesquisadinha também sobre a Revolução Açafrão, liderada pelos monges. Essa mística política e de manifestações ainda é muito forte na cidade até hoje (no dia seguinte que saímos de lá, vimos na TV que havia ocorrido um grande confronto entre estudantes e policiais) e uma leitura prévia ajuda a entender muito do clima da cidade.

Para entender um pouco mais sobre Yangon in loco, um passeio muito legal de se fazer é o tour guiado no centro, organizado pela Heritage Trust, uma instituição que zela pelo patrimônio urbano. Não é dos mais baratinhos, mas de novo foi a melhor maneira que encontramos para interagir com locais e conseguir ver além das fachadas!

Ficou claro que Yangon é a cidade mais ocidentalizada de Mianmar, onde já podemos ver o pessoal usando calça jeans e alguma manifestação pública de casais (embora beeeeem discreta!). Ela também sofre com os problemas característicos de cidade grande, incluindo o boom imobiliário e a necessidade de revitalização da zona portuária (ué, estamos falando do Rio?).

Rua típica de Yangon
Rua típica de Yangon

O principal ponto turístico de Yangon é Shwedagon Pagoda, um templo (ou melhor, um complexo!) bem grande, onde você pode passar várias horas. Dica: vá com suas garrafinhas de água cheia, pois não havia para comprar, apenas a oferecida pelo templo. Tivemos a sorte de estar lá em uma véspera de feriado, por isso pegamos algumas celebrações oficiais. Por outro lado (e só nos demos conta disso depois), no dia seguinte não conseguimos ir ao museu-casa de Aung San, que estava fechado… uma pena. Mas conseguimos ir ao Museu Nacional, que vale a visita! E adivinhem só, lá não se pode cuspir betel. Tá em dúvida sobre essa informação? É só entrar nesse post aqui para saber de algumas curiosidades do país!

Non Smoking
No smoking / No chew a quid of betal

E como também gostamos de fazer programas locais quando viajamos, resolvemos pegar um cineminha por lá. O primeiro que tentamos só tinha filmes dublados em birmanês, então definitivamente não rolou, mas de lá nos indicaram um outro que tinha opções em inglês. Tudo pertinho, na região central.

Quando chegamos, a atendente do caixa logo nos perguntou: na parte de cima ou de baixo? Bom, se é para experimentar o novo, vamos na de cima né! O lugar parecia um teatro antigo adaptado para o cinema. Ingressos comprados, na primeira entrada passamos por uns cinco funcionários que ficavam conferindo os tickets. Na segunda, já no andar superior, foram mais uns 2. E na hora de entrar na sala ainda tinham lanterninhas para indicar os assentos marcados! Achamos muita gente para pouco serviço… e aí nos lembramos que uma amiga alemã sempre comentava que tinha essa impressão no Brasil… para refletirmos, né?!

Bom, já estávamos bem acomodados quando as luzes se apagaram, a tela acendeu e um aviso bilíngue apareceu: “todos de pé para o hino de Myanmar”!!! Levantamos imediatamente, afinal considerando que estávamos em um país que ainda é considerado uma ditadura, não queríamos arriscar! Reparamos que uma pessoa ficou sentada e ficamos na expectativa para ver se ela iria ser advertida… mas felizmente nada aconteceu. Esperamos que isso seja um sinal de que o regime está ficando menos rigoroso!

Durante o filme muita gente ficou mexendo no celular (ô costume ruim, viu!) e um cara até atendeu e fez (!) ligações. Também ouvimos barulho de gente mastigando o tempo todo… incrível, a pipoca do pessoal parecia infinita, ficamos realmente nos perguntando de onde vinha todo o estoque! Quando as luzes se acenderam, percebemos que a pipoca na verdade era pistache e a casca estava por todos os lados.

Cinema Yangon
Cinema Yangon

No final, todo mundo se levantou, foi embora e o pessoal da limpeza chegou para dar um jeito. Ficamos bem impressionados, mas pareceu ser um hábito bem comum por lá. Ou pelo menos ninguém mais parecia tão surpreendido como nós, rs!

Bom, com essa última aventura nos despedimos dessa série de posts sobre nossa viagem para Mianmar! Tomara que a gente tenha conseguido matar um pouquinho da sua curiosidade por este país, mas deixado em você uma grande vontade de saber mais ainda!

Em Mianmar, nós também passamos por MandalayBagan. É só clicar nas cidades pra ver nossos posts sobre lá.

Yangon
Yangon

Obrigada pela companhia!

Carol e Marcelo toparam o desafio de contar pra gente como foi a viagem deles pra Myanmar. Eles são “Gente que Ama Viajar”.

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