Resolução de Ano Novo: quando não se bate as metas do ano que passou

Não sei vocês, mas eu comecei 2015 cheia de planos, sonhos e metas. Sabe aquela lista de resoluções que somos encorajados a produzir todo fim de ano? Então, eu tive a minha também.

Me arrisco a dizer que minha lista era bem eclética. Entre as metas pessoais, eu queria consertar o meu mundo: queria ficar mais perto das pessoas que eu amo, voltar para a academia, perder alguns quilinhos extras, voltar a cozinhar, comprar alimentos orgânicos, sair mais com meus amigos, começar um curso de canto e viajar horrores.

Além das metas pessoais, a lista estava cheinha de metas profissionais, claro.

No final de 2014, voltei da minha viagem de volta ao mundo com a cabeça completamente abarrotada de ideias. Viajar tinha mudado minha vida e eu queria empreender no mercado de turismo. De preferência, queria rentabilizar o meu blog, que já estava crescendo sozinho, e ganhar dinheiro com ele.

E nada melhor do que uma lista de resoluções pra eu organizar minhas ideias e emoções e colocar meu coração, que nessa época dava mortais aqui dentro do meu peito. Começava mais um ano e eu teria a chance de recomeçar minha carreira do zero, zerinho.

E então esse ano de 2015 chegou: desafiador, intenso, fascinante, arrebatador… um perfeito vulcão em atividade.

Como eu havia trabalhado por anos na área de marketing em uma grande empresa nacional, eu acreditava que marketing era o que eu fazia de melhor na vida; talvez mais, eu acreditava que era a único trabalho que eu conseguiria desempenhar bem. Eu tinha muita ciência da minha ignorância e sabia que a minha corrida tinha que ser rápida.

Comecei pelo começo e fui estudar. Queria aprender tudo sobre tudo. Precisamente, eu tinha 18 ideias de negócio. Dezoito ideias que mudariam o mundo e a forma como as pessoas viajam por ele, disso eu tinha certeza. Convicção era meu nome do meio.

E mergulhei. Mergulhei muito fundo. E a cada nova braçada, eu via peixes novos e mais coloridos, descobria partes do oceano que eu não imaginava que existiam. Cada dia que passava me revelava algo desconhecido. Minha ansiedade só foi aumentando e, na mesma velocidade, minha lista de pendências diárias.

Cada dia era um tópico diferente. Eu precisava aprender, e aprender rápido. Eu precisava ganhar dinheiro. Rápido. E quanto mais fundo eu mergulhava, e mais rápido nadava, mais oxigênio do cilindro eu consumia. Eu até aprendi essa dinâmica durante o curso de mergulho que fiz na Tailândia, mas demorei a perceber que essa analogia valeria em várias circunstâncias da minha vida.

E foi muita, muita mudança de uma só vez:

  • Mercado de atuação: de educação para viagens
  • Core do meu trabalho: de gerente de marketing para escritora, fotógrafa, editora, webdesign, analista de mídias sociais, analista de SEO, programadora, vendedora, palestrante, analista financeira
  • Local de trabalho: de um prédio comercial para minha casa
  • Colegas de trabalho: de mais de 20 pessoas para um coqueiro, um bonequinho de cerâmica do Dom Quixote e alguns livros
  • Roupa de trabalho: de calça social e sapato de salto alto para shorts, camiseta e chinelo
  • Logística: de uma hora por dia no trânsito para uma hora por dia cozinhando meu almoço)
  • A relação com a minha casa: de um santuário de descanso para um escritório improvisado
  • Rotina: de ter hora pra acordar e entrar no trabalho para não ter hora pra nada
  • A relação com meu dinheiro e com minha independência: de ganhar bem todo mês e ser 100% independente para precisar da ajuda do meu marido.

E na ânsia de bater todas as minhas metas de ano novo, eu fiquei praticamente sem oxigênio. E mesmo assim, acabei não mergulhando apenas 15 metros, dos 30 que eu tinha me proposto. Mas eu precisava começar com 30 metros, o mais fundo que um mergulhador avançado pode ir? 18 metros já não seriam um sucesso para meu primeiro ano?

Percebi que querer chegar a 30 metros me impediu de chegar aos 18. Olhar para trás e ver tudo o que eu fiz para tentar riscar 100% da minha lista de resolução de ano novo, na verdade, me fez entender a real importância de foco e de planejamento.

Por outro lado, aprendi uma quantidade imensurável de coisas, conheci gente muito legal, fiz parcerias incríveis e consegui desenvolver trabalhos dos quais me orgulho bastante. Descobri muitas pessoas em mim. Descobri que tenho inúmeras habilidades e competências escondidas, assim como qualquer um de vocês.

Mas sabe? Eu não me arrependo. No fundo, até acho que não teria como ser diferente, uma vez que o processo de amadurecimento sempre é caótico, confuso, nada linear. Ele requer desconstrução, concessões e um pouco de dor também.

Chegar no final de 2015 e olhar para todas as minhas metas não batidas, de alguma feliz forma, não me faz sentir que fracassei. Me faz sentir mais madura, mais preparada, mais consciente do que meu trabalho pode entregar e do que posso conseguir por meio dele.

Depois de tudo o que vivi esse ano, tenho muito mais clareza do que eu quero, da profissional que sou. Sei que posso dar o melhor de mim em atividades completamente diferentes e que o sucesso começa antes no meu coração. Começa na confiança de que posso fazer um bom trabalho e torna-lo cada dia melhor. E então acho que posso dizer: que ano bem-sucedido foi esse 2015.

E venha 2016. Venha ser outro ano alucinante, com trabalhos lindos e trabalhos ingratos (eles fazem parte), com mais descobertas e mais ação. Rumo aos 30 metros, que meu cilindro já tá cheinho de novo!

“Tenho em mim todos os sonhos do mundo” – Fernando Pessoa

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