Resoluções de Ano Novo

2014 foi um ano em poucos. Mas não deveria ser assim. 2014 deveria ser aquele tipo de ano mais comum.

Em 2014, finalmente descobrimos o livre-arbítrio. O agir deliberadamente. O fazer aquilo que se escolhe. O que para alguns foi loucura, para outros, irresponsabilidade. Perda do emprego. Financiamentos a pagar. Dinheiro indo pelo ralo. Para nós, foi liberdade. Liberdade de escolha. Escolha por sair da zona de conforto. Zona de conforto de uma vida que não reconhecíamos. Coração que não sabíamos escutar. Não só escutar, entender também.

Em 2014, praticamos sem dó o desapego. Saímos com 15 quilos de insumos básicos na mochila e vivemos com eles por muito mais tempo do que podíamos imaginar. Alugamos nosso apartamento recém-comprado e decorado. Com quase tudo dentro. Vendemos um dos nossos carros. O carro que um dia foi o sonho do Paulinho.

Em 2014, vivemos com pouco. Pouco dinheiro. Pouco luxo. Pouco mimimi. Pouco estresse. Pouco compromisso. Pouca conta pra pagar. Constatamos o que muita gente já sabe: quanto mais se tem, mais dinheiro é necessário para manter. Mais dinheiro. Mais trabalho. Menos tempo.

Em 2014, aprendemos que o mundo existe para muitos. Que a terra gira em torno do sol e não em torno de nós. E que o sol é tão mais capaz de produzir maravilhas. Ele derrete parte da neve nos Himalaias durante o verão. Ele alimenta e dá vida às tulipas na Holanda. Ao se pôr, ele colore o céu quase inteirinho de laranja na Croácia. Ele aquece as águas tailandesas. O sol brilha pra todos sim, até mesmo na congelada Sibéria.

Em 2014, andamos muito e percebemos que nossas pernas aguentam um montão. Abandonamos o sedentarismo paulistano e chegamos a cruzar Paris a pé. Descobrimos lugares escondidos, vista lindas, restaurantes caseiros e adotamos nossos pés como nosso principal meio de locomoção.

Em 2014, conhecemos muitas pessoas queridas. Divertidas. Inteligentes. Sonhadoras. Corajosas. Inspiradoras. Gente de todo tipo, do bem, da paz. Mostraram que são muitas mesmo as possibilidades de levarmos a vida.

Em 2014, deixamos a frescurinha de lado e nos permitimos comer todo tipo de comida, dormir em lugares inusitados, usar a mesma peça de roupa muito mais de uma vez. Não combinar blusa com calça. Ficar com marca de shorts e regata. Entrar na cachoeira de roupa. Tomar chuva. Ficar meses sem pintar as unhas. Fazer a própria sobrancelha e cortar o próprio cabelo.

Em 2014, sentimos falta das pessoas especiais. Da presença física. Da presença emocional. Pessoas especiais são como o sol: dão vida. Precisamos delas. Parte de nós é culpa delas. E quando as deixamos de lado, sobram apenas as fotos amareladas e as lembranças de um tempo bom. Para elas, ombro amigo, conversa fiada, cerveja gelada e caipirinha de morango. Abraço apertado, olho no olho, carinho. Surpresa no aniversário, salmão com alcaparras, comida japonesa. Dia de sol na piscina, caldo verde e baguete vegetariana no jantar. Encontros no meio da semana, presentes entregues antes da hora, pão de queijo quentinho com manteiga. Lençol cheiroso na cama, chocottone vendo TV.

2014 foi um ano de vida e, por isso mesmo, deveria ter sido um ano comum, não um ano memorável. Decidimos que 2014 não será único. Paulinho já encontrou um trabalho que adora. Eu vou construir meu próprio trabalho. Eu quero aprender a cozinhar. Paulinho, a fotografar. Vamos dar uma chance à bicicleta e ao transporte público. Mais simplicidade. Mais pôr-do-sol, mais café da manhã na varanda.

Mais encontros. Mais jantarzinhos com os amigos. Mais filme com pipoca. Mais livros. Mais risada com a família. Mais empatia e mais tolerância. Mais atenção à saúde e mais exercício físico. Que tenhamos tempo. Tempo para nós, para os outros. Que a gente saiba respeitar os limites das pessoas e saiba entendê-las. Que sobre mais dinheiro no final do mês para as viagens nos finais de semana.

Que os desejos prevaleçam sobre os medos. Que sejam maiores os arrependimentos pelo que foi feito do que pelo o que não foi. Que 2015 seja mais um ano de vida, como todos os outros que virão.

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2 COMENTÁRIOS

    • Olá Ronaldo! Realmente, praticar o desapego nos tem feito muito bem. É sempre bom olharmos para o que tem valor de verdade. Muito obrigada pela visita e pelo feedback! 😉

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