Intercâmbio. Como é tomar a decisão e quais as delícias que ela traz

Recentemente, aceitei participar de um daqueles desafios que rolam no Facebook, e nele eu tinha a missão de publicar três fotos de lugares inspiradores, uma por dia.

Eu sinto falta praticamente de todos os lugares que já visitei. Sinto falta do que eu vi em cada um deles e de quem eu fui enquanto estava lá. E por todos eles me inspirarem, esse desafio se revelou especialmente difícil pra mim. Na escolha da primeira foto, eu optei pelo lugar que me fez pensar profundamente sobre o sentido da vida e as crenças que carrego. Escolhi o Tibet.

Já no segundo dia de desafio, refleti rapidamente sobre o porquê dessa dificuldade em escolher e essa reflexão me levou a pensar sobre a “origem” desse laço apertado entre o mundo e eu.

Se é que essa “origem” existe, não vejo outro lugar no mundo que não o lugar que protagonizou a minha primeira viagem, ou seja, meu primeiro contato como mundo. Lá em 2007, durante meu intercâmbio, em Londres.

Não, não vou fazer outra declaração de amor a Londres (essa você pode conferir aqui). Dedico este post a contar como tomei a decisão de fazer intercâmbio e como foi a minha vida até o dia do embarque.

Um pequeno contexto

Há 12 anos (uau!, 12 anos), eu estudava antropologia, trabalhava com RH em uma empresa que eu ADORAVA e estava para me formar. Entre os muitos momentos de ócio criativo que só o ambiente da faculdade proporciona, uma amiga e eu falávamos sobre vida e carreira (e as restritas possibilidades de trabalho para um cientista social), quando ela pronunciou a seguinte frase: “vamos viajar para a Inglaterra e estudar inglês?”

As imagens do Big Ben e dos guardas da rainha invadiram minha cabeça imediatamente. E não saíram mais de lá. Eu estava decidida e tinha que ser naquele momento, pois “depois que começasse a trabalhar e me atolasse nas responsabilidades da vida adulta, eu não iria conseguir” – eu pensava. E tinha que ser Londres! Não me via em nenhum outro lugar.

intercâmbio em Londres

Eu nasci e fui criada no interior de São Paulo. Cresci rodeada pelo carinho da minha família inteira (além dos pais e irmãs; avós, primos, tios-primos, tios-avós, quase todo mundo mora na mesma cidade). Eu também já estava em um relacionamento sério, namorava o Paulinho há alguns anos.

Além disso, ninguém próximo a mim tinha feito uma viagem parecida. E o mais desafiador: meus pais não conseguiriam me ajudar financeiramente. Pra fazer acontecer aquela ideia maluca, eu precisava de duas coisas: grana e coragem.

Post relacionado: Porque estudar em Londres

Medos

Que sentimento amis traiçoeiro… Por conta dele, eu quase perdi de viver uma das mais importantes experiências da minha vida. Que bom que foi quase…

O medo era bem generalizado e atacava vários âmbitos da minha vida. Sentimental: medo de sentir saudades, de acontecer alguma coisa com alguém e eu não estar presente. Futuro: perder uma chance de efetivação, postergar em um ano minha formatura, ter um “buraco” no meu currículo. Financeiro: investir todo o dinheiro que eu tinha, voltar da viagem sem nenhuma reserva. E amoroso, claro: ficar 8 meses longe do meu namorado.

Acho que o medo deve ser encarado como uma força que ajuda a gente a não fazer besteiras, que liga uma luz vermelha em situações que precisam da nossa atenção e reflexão, que não deixa a gente se jogar do abismo. Mas, em hipótese nenhuma, ele tem que fazer a gente dar dois passos pra trás e nenhum pra frente, ou fazer da gente desistir de alguma coisa.

Mas o tempo, e minha insistência, me trouxeram coragem, e quão grata eu sou por não ter desistido.

O envolvimento da família

Nunca vou me esquecer da reação de desaprovação dos meus pais quando descobriram meus planos. Eu fui plantando a ideia um pouco aqui, um pouco ali, até que ela se tornou real. E, mesmo quando eles tomaram consciência de que era pra valer, ainda assim não apoiaram.

Sempre que eu tentava tocar no assunto, uma expressão de terror tomava conta deles. Eu sozinha em outro país? Por tanto tempo? E se ficasse doente, se fosse atropelada, assaltada, raptada? Se não me adaptasse, se ficasse deprimida? Se fosse enganada, machucada? Se me perdesse na madrugada e não conseguisse voltar pra casa? Se meus amigos fossem, na verdade, “más influências”?

Foi uma época bem difícil. Até a última semana, eles ainda não me apoiavam 100%. Na verdade, eles estavam morrendo de medo. Muito mais medo do que eu, que estava lá toda saltitante com o passaporte na mão. Muito embora, eles não tenham me ajudado com o processo, sei que no fundo estavam torcendo para dar certo.

Trabalho dobrado para conseguir o dinheiro

Eu poderia ser a menina mais corajosa de todo interior de São Paulo, mas se eu não tivesse a grana, eu não ia a lugar nenhum. Foi aí que eu comecei a guardar cada centavo que sobrava da minha bolsa-estágio e me candidatei para ser professora de uma turma de supletivo num programa do governo estadual.

Assim, eu estagiava de segunda a sexta, estudava à noite e aos finais de semana eu lecionava para uma turma de 25 alunos. Foram 18 meses nessa pegada de trabalho de segunda a segunda, mais faculdade, mais trabalhos da faculdade.

E enquanto meu porquinho engordava, eu sonhava com a neve, com o chá das 5 e as badaladas do Big Ben.

Escolhas da vida

Como eu comecei a me planejar com quase 1 ano e meio de antecedência, eu tive tempo para aprender sobre o país, ler relatos de outros intercambistas, saber quais eram as dificuldades que eu ia enfrentar e as delícias que eu ia viver. Fui me apaixonando por Londres antes mesmo de conhece-la. A coragem foi se aconchegando em mim sem que eu percebesse. E eu fui descobrindo que podia ser dona das minhas escolhas.

Meus pais continuavam relutantes e minha chefe havia me feito uma proposta incrível de efetivação. Embora tudo me balançasse, nada me convencia. Como uma amiga de infância me falou na época, eu estava implacável. Uma das sensações mais prazerosas que eu me lembro de sentir era de dizer não para as coisas: “não, obrigada, vou fazer intercâmbio”.

Sim, eu sabia que teria que abrir mão de coisas importantes, mas não é isso que todos nós fazemos da hora que acordamos a hora que dormimos? Todos os dias? Eu me concentrava no que eu realmente queria. Eu acredito que a decisão mais acertada é aquela que a gente toma, não importa qual, e que a gente só conhece as consequências da decisão que tomou. O resto é só especulação. Uma vez que escolhi por onde seguir, não abri muito espaço para “e ses”.

Alguns bons meses antes da suposta partida (afinal, eu estava empenhada, mas nada estava certo), eu descobri que estudantes tinham desconto na compra de passagem aérea. Só por curiosidade, pedi a uma agência de intercâmbio que fizesse a cotação pra mim e, pra minha surpresa, o valor estava ótimo. Na mesma hora, liguei para o meu pai (que iria me emprestar o dinheiro da passagem) e pedi para ele transferir o valor para minha conta.

Era uma quarta-feira, eu estava no trabalho, mas iria pra Londres: tinha acabado de reservar o meu voo. E de repente, tudo estava decidido.

Muitos de vocês podem estar se perguntando: “mas onde estava o Paulinho nessa história?” Ele também estava arquitetando seu próprio plano. Ele tinha sido aprovado para um estágio em uma universidade nos Estados Unidos. E então, a pergunta que mais respondi na época: “se você quer aprender inglês, porque você não vai com ele para os EUA”?

A verdade é que eu já estava louca pra conhecer Londres. Eu já sonhava intensamente com isso. Aquela era a minha experiência, só minha. E eu comecei a sentir ciúmes dela. Queria viver e sentir tudo aquilo sozinha. Sabia que ela seria transformadora e a queria só pra mim. Então, muito felizes, nós dois seguimos caminhos opostos.

E por mais que eu tivesse sonhado, eu jamais, mesmo que tivesse lido 1 milhão de livros, jamais poderia imaginar o que foram os sete meses que eu vivi em Londres e como eles me mudariam pra sempre.

Mas esse é um assunto para um outro post. 😉

intercâmbio em Londres

Intercâmbio em Londres

Depois de viver tudo isso e de ter a mais absoluta certeza do bem que essa experiência causou em mim, eu decidi que iria ajudar outras pessoas a realizarem o mesmo sonho.

Assim, surgiu a TERAVÍ, a minha empresa especializada em design de viagens e educação internacional. Aqui em TERAVÍ, tudo, tudo, tudo o que a gente faz é se engajar na sua causa e transformar seu sonho em realidade junto com você. Quer conhecer essa nação de inquietos e conversar sobre o assunto? Clique aqui então.

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4 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pelo texto, ficou muito legal!
    Nossa, assim como a Alana eu estou quase na mesma situação, e não sei se vou ou não.
    Fico com um medo na barriga, me acho um pouco acima da idade da molecada que vai fazer intercambio, poxa, tenho 46 anos, será que ainda dá tempo ou já passou meu tempo?
    Eu trabalho na área de turismo, preciso dar uma renovada e por o ingles em prática também.
    Mas me motivei lendo seu texto, estou mais pra ir do que pra ficar.
    Obrigada Pam Campos, me ajudou muito aqui.

  2. Oii Pam!

    Adorei o seu relato. Me identifiquei muito. Estou exatamente na fase de “vou, não vou”.
    Tenho todas as variáveis a meu favor (fui demitida, já terminei faculdade, não namoro), mas tenho algum bloqueio que ainda não acendeu a minha luzinha “vai logo, e esqueça os SEs”.
    Tô muito afim de tirar a vida do modo automático, e tentar algo novo.
    Vamos ver, quem sabe na minha próxima visita eu não relate que já fui e deu tudo certo.

    Um abraço

    • Olá Alana!
      Que delícia ler sua mensagem. Obrigada! Esses sentimentos passam no coração de todo mundi, viu? Mesmo aquelas pessoas que já acreditam já ter feito a escolha. São muitos “SEs”, como você falou, mas se esse é um sonho, vá! Vá sem medo. Compre a passagem. Você vai ver depois que todos os seus medos aos poucos não farão mais sentido. E se precisar de mim, pode escrever, ok?
      Quero muito um relato seu aqui no blog! Um beijo

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